A escolha da carreira deve ser vista como uma descoberta individual. E, por muito boas orientações que se transmitam, a vontade do próprio é que deve reinar. Nem que para isso seja necessário mudar de percurso. Há perguntas que parecem fazer parte da cultura popular. Raros são os casos em que, enquanto crianças e adolescentes, não nos tenham perguntado sobre o que queríamos ser quando fôssemos grandes! “Então e o que queres ser quando fores grande?” é uma pergunta que os nossos antepassados ouviram, nós ouvimos e também as nossas crianças certamente irão ouvir, e possivelmente aborrecer-se com o número de vezes que lhes perguntam o mesmo!
As
respostas vão mutando ao longo do tempo. Príncipes e princesas, médicos e
bombeiros, professores e educadores, veterinários e artistas de rock,
atores e cozinheiros, bailarinas e advogados… as possibilidades são
tantas as que a imaginação contém. As influências são suspeitas. Os
heróis são sempre bem acolhidos e transponíveis para os desejos da nossa
realidade futura. Assim como o modelo parental é um exemplo a seguir,
afinal se os pais são os heróis das crianças, seguir-lhes os passos são
também opções que consideram. Têm também as influências racionais que
envolvem a aceitação de bons conselhos: “Esta área tem futuro”, “vão ser
precisos trabalhadores disto”, “toda a gente necessita daquilo”…
Os mais esclarecidos (ou teimosos como alguns los apelidam) optam por ter voz própria, vontade própria e manifestam resiliência. São de ideias fixas e de motivação acrescida que os fazem olhar para o seu percurso de forma mais límpida. Esta nitidez de caminho a percorrer é um fator importante. Permite mais facilmente envolver a criança e adolescente no esforço necessário para concretizar os seus objetivos. O seu desejo de alcançar a meta faz com que superem os obstáculos com maior capacidade de “sofrimento”, empenho e atitude proativa. Aspetos fundamentais para conseguir concretizar qualquer objetivo.
Novos interesses
Não são de facto muitos os alunos que têm este percurso tão bem estruturado e delineado para o seu futuro. Nem precisam de o ter. A definição de um percurso profissional pode, e é natural que assim aconteça, mudar ao longo de toda a vida. Por vários motivos: novos interesses descobertos, boas oportunidades que se cruzam no caminho, condicionantes (financeiras, logísticas…), são fatores que se atravessam pelo percurso de vida e que nos fazem tomar outras opções. Umas mais próximas do nosso sonho da profissão ideal, outras nem por isso.
O que não é sinónimo de ser mau. Isto porque, são consideravelmente elevados os casos de adultos que descobriram ser felizes noutras áreas, que não tinham inicialmente equacionado ou imaginado. As perceções iniciais são, na maioria das vezes, fundamentadas em sonhos, mas à medida que crescemos e nos apercebemos do que somos, do que gostamos, do que conseguimos fazer melhor, do que nos faz feliz, as nossas escolhas são efetivamente mais consistentes, ponderadas e assertivas.
Numa sociedade em evolução, a perspetiva romântica de emprego eterno tende a cair em desuso. Cada vez mais a realidade será de ter muitos e diferentes empregos ao longo da vida. Uma formação diversificada incidente num saber fazer, mas sobretudo num saber pensar e adaptar, será uma mais-valia tremenda para os nossos estudantes de hoje. Alimentar a curiosidade, estimular a criatividade, fará com que as crianças se preparem melhor para os desafios que terão pela frente. Serão mais competentes nas respostas, mais criativos e “desenrascados” numa vida profissional ativa e diversa como a que certamente terão.
A escolha da carreira deve ser vista como uma descoberta individual. Por muito boas orientações que se transmitam, muitos excelentes conselhos que se deem, sugestões que se argumentem, a vontade do próprio é que deverá reinar.
O papel dos pais
Muitos pais ficam preocupados com os desejos profissionais futuros dos filhos. Ou por ser difícil de conseguir, ou porque não é adequado ao seu perfil, não lhes dará sustento... As preocupações são várias. A opinião dos adultos deve ser encarada como uma sugestão e como uma informação orientada e fundamentada que deve fazer parte da reflexão dos miúdos nas suas escolhas. O principal papel do adulto será alimentar a curiosidade, o desejo, o sonho. Clarificando caminhos, alertando para necessidades, e dificuldades, mas, sobretudo, aplaudindo as conquistas e apoiando as derrotas.
As incertezas farão parte do percurso. Deles e dos pais. Nunca se saberá se a opção tomada foi a melhor, mas não deveremos viver nessa angústia. É um facto a considerar que não se fazem más opções de forma consciente. Naquela altura foi a melhor opção, com o conhecimento que existia. Só temos a perceção se foi uma má escolha no futuro já com outras vivências, com outras informações que nos permitem reforçar ou refutar opções tomadas.
Contudo a confrontação com uma má
opção é um excelente ponto de partida para um recomeço. Nestas alturas
em que muitos desmotivam pensando não haver solução, é nesta janela de
oportunidade que devem centrar a sua atenção para a mudança.
Se considerarmos que a maioria das profissões, num futuro não muito distante, ainda não existem hoje, parece-me importante preparar os nossos jovens para o desconhecido e para a mudança. Para a incerteza do que ainda não existe, mas que possa ser uma realidade. Uma realidade que condiga com felicidade, como nos versos de Ricardo Reis: “Para ser grande, sê inteiro:/ Nada teu exagera ou exclui/ Sê todo em cada coisa/ Põe quanto és/No mínimo que fazes”.
Experimentar ajuda
Perante
incertezas e angústias na tomada de decisão, ter uma perceção prática e
vivenciada nos contextos que, à partida, mais nos agradam, é um forte
contributo para efetivar uma escolha acertada. É de utilidade acrescida
que se possam passar algumas temporadas (curtas ou longas mediante
possibilidade) para poder acompanhar o dia-a-dia profissional das áreas
que mais suscitam interesse. São muitos os casos de adolescentes que
embelezam o cenário das profissões que mais gostam. Até porque
geralmente também são esses os olhares que são transmitidos. Mas há todo
um enquadramento, maioritariamente de trabalho menos visível e mais
trabalhoso, que faz ponderar e refletir sobre esta visão mais romântica
do dia-a-dia profissional.
Estas experiências podem ser mais formais, como estágios, ou mais informais, como voluntários sem compromisso. O importante é vivenciar o terreno e a ação. Não é recomendável, nessa fase da vida, procurar por respostas definitivas. Estas experiências não são apropriadas para decidir, mas para experimentar, vivenciar e procurar elementos importantes para a tomada de decisões futuras. O tempo de decidir chegará no futuro mas, antes, é importante aproveitar as oportunidades para extrair o máximo de conhecimento e maturidade. Afinal, são experiências para errar e acertar, aprender com os erros, observar e refletir.
É tempo de experimentar. Estas experiências devem ir sendo propiciadas ao longo do tempo e não em momentos próximos de uma tomada de decisão. As férias são períodos oportunos pela maior disponibilidade, mas não são os únicos. Podem igualmente ser considerados durante o período de aulas, desde que não sejam demasiado absorventes ou condicionantes para o bom desempenho académico.
Ver o lado lunar das profissões ajuda a uma clarificação no processo de decisão. A informação que se possui no momento da escolha é de extrema pertinência. Decidir com base na informação é importante, mas com base na experiência ainda é mais assertivo e consciente.
Fonte: paisefilhos.pt
Blue Eyes
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