Síndrome de Tourette


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O José sempre foi uma criança normal.
No segundo ano da escolaridade, começou com tiques. Mas o pior estava para vir: sem se conseguir controlar, começou a dizer, de forma compulsiva, palavrões.

O José foi sempre uma criança muito bonita e alegre. E, como os outros meninos, apresentou um desenvolvimento psicomotor convencional: andou pelos treze meses de idade; disse as primeiras palavras aos catorze meses e começou a ler as primeiras letras pelos cinco anos de idade. Sempre aprendeu bem, com muita facilidade. 
No segundo ano da escolaridade, começou com tiques. Piscava, permanentemente, os olhos. Só parava quando dormia. Passados uns meses, a coisa complicou-se: começou a fazer um movimento muito rápido de encolhimento dos ombros, bem mais notório que o piscar de olhos. Como se isto não bastasse, deu em fazer sons parecidos com o resfolegar de um cavalo. E isto na sala da aula, durante a missa ou onde quer que fosse. 
Os pais andavam bem preocupados. Mas o pior estava para vir: sem se conseguir controlar, começou a dizer, de forma compulsiva, palavrões (coprolália), enfiados uns nos outros, acompanhados dos respetivos gestos feios (copropraxia). Por este comportamento, deixou de ir à escola e quase não saía de casa. 
O pediatra do desenvolvimento, que viu o Zé lá em Aveiro, não teve dúvidas: tratava-se da síndrome de Gilles de la Tourette (nome de fidalgo francês em quem foi devidamente descrito, pela primeira vez, a associação de tiques motores e tiques vocais). Medicou o miúdo e propôs uma intervenção comportamental. 
Hoje, passados dez meses, o Zé está ótimo. Talvez ótimo de mais: quando, lá na escola, ouve um palavrão, fica corado de vergonha e diz que o menino é muito mal-educado.

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