As crianças precisam de aprender a esperar
Quem tem um pouco mais de “experiência”, para não dizer mais idade, ainda se lembra do ardor causado pela Tintura de Iodo, um anti-séptico para feridas.
Quando era criança passava a vida a esfolar os joelhos e os cotovelos, e daquilo que me recordo, não sei o que era pior: a dor da queda ou o ardor do Tintura de Iodo quando quando me desinfetavam as feridas..
A minha mãe dizia “o que arde, cura!”… Nunca soprava para a ferida para aliviar a dor, o que na altura eu achava cruel, mas hoje em dia sei que era sábio. Afinal, quando se sopra uma ferida, podemos infectá-la com as bactérias presentes na boca.
Cair primeiro doía e depois ardia.
Com o tempo, a Tintura de Iodo foi sendo cada vez menos usada e foi substituída por outras fórmulas que não ardem. Não ardem!
Com o tempo, os nossos filhos deixaram de sentir o ardor dos dos anti-sépticos, e também os ardores da vida.
Estamos a criar uma geração que não sabe o que é ardor, fome, sede, espera, paciência.
Trazemos na mala um kit completo que inclui água, bolachas, telemóvel, tablet, caderno, lápis de cor, analgésico e o que mais couber. Os nossos filhos não podem esperar. Esperar meia hora, quarenta minutos para comer? Jamais! Dez minutos por uma água? Nunca!
Não podem ir a restaurantes sem espaço para crianças porque não vão suportar a permanência no local.
O que é que estamos a criar?
Os nossos tempos de espera foram positivos e ainda hoje a vida ensina-nos a saber esperar.
Possivelmente, neste exato momento, estás à espera de alguma coisa: de uma cura, uma promoção, um telefonema, uma casa nova, um carro, uma viagem, engravidar, um namorado, qualquer coisa. Estás à espera. E a solução dos teus problemas não estão na mala da tua mãe.
As crianças devem e podem esperar.
Nós, como pais, temos a obrigação de ensiná-los a esperar porque temos que prepará-los para a vida tal como ela é.
As crianças tem uma necessidade, ficam chatas, nós não temos paciência e damos-lhe o que elas quiserem. Qualquer coisa.
Ferrari? Paris? Gucci? Qualquer coisa, mas parem de chorar!
E assim, a nossa baixa resistência aos apelos dos filhos levam-nos a errar.
Nada pode arder. Nem os anti-sépticos.
Na realidade, tudo continua a arder. Estamos apenas a transmitir aos nossos filhos a falsa sensação de já nada arde, de que tudo é imediato.
É isso mesmo que queremos ensinar?
Deixo a reflexão.
Fonte: uptokids.pt
Blue Eyes
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