COMUNICAR: COMO TRANSMITIR ORDENS ÀS CRIANÇAS SEM FERIR A SUA AUTOESTIMA

Foto: Up To Kids®
Uma boa comunicação está na base de uma relação equilibrada e saudável, sendo ainda de maior relevância quando falamos na relação entre Pais e Filhos. É através dela que expressamos aos outros o que queremos, o que sentimos, o que não gostamos, do que precisamos e é graças a ela que podemos atingir a sensação de que somos realmente compreendidos e respeitados.

Um dos principais motivos que leva os Pais a frequentarem os Workshops de Parentalidade Positiva prende-se com as dificuldades em chegar aos filhos através das palavras. “Porque é que ele não me ouve?” ou “Não liga nada ao que eu lhe digo!” são frases recorrentes e que surgem nas sessões quase como desabafo, sejam os filhos crianças ou adolescentes.

Se pretende mudar o seu estilo comunicacional e falar ao seu/sua filho(a) de forma a que ele/ela o/a oiça, sugiro que comece por uma coisa muito simples – escute-se a si próprio com muita atenção. Nas próximas 24 horas esteja especialmente atento(a) ao que diz ao seu filho e à forma como o diz. Tome pequenas notas das conversas que mantém com eles e do que sentiu nessas trocas de palavras.

É comum os Pais, após a realização do exercício de tomarem pequenas notas das conversas que tiveram com os seus filhos nas últimas 24 horas, constatarem que dizem muitas coisas que não gostariam de dizer às suas crianças e adolescentes, ouvindo tantas outras com as quais também não se sentem nada satisfeitos. Também é recorrente os Pais se queixarem que, não poucas vezes, as conversas facilmente se transformam em discussões e que os seus filhos não lhes contam as coisas. 
Na verdade ouvirem-se a si próprios já representa um progresso. É o primeiro passo para a mudança. Uma vez que qualquer processo de mudança não é possível sem esforço e determinação, comece por pequenas alterações:
1.º Ouça com muita atenção e de forma empática.
 
Quando a criança estiver a falar consigo deixe o que está a fazer, olhe para ela e não se limite a anuir. É muito mais fácil contar os problemas a um Pai que está realmente a ouvir. Nem precisa de dizer nada. Muitas vezes, um silêncio complacente é só o que a criança precisa.
2.º Em vez de fazer perguntas e dar conselhos sobre o que a criança lhe está a transmitir, demonstre que está a ouvir.
 
É difícil para uma criança pensar com clareza ou construtivamente quando está a ser interrogada, acusada ou aconselhada. Um simples “Oh…”, “Hum…” ou “Estou a ver” por si só pode ser uma grande ajuda. Palavras deste tipo acompanhadas de uma atitude preocupada convidam a criança a explorar o que pensa e o que sente, e talvez a arranjar sozinha uma solução para o seu problema sem a intervenção dos pais.
3.º Não negue ou contrarie o que o/a seu/sua filho/a sente.

Uma das questões mais importantes e desafiantes na relação comunicacional Pais – Filhos, prende-se com a expressão das emoções.Imagine a seguinte situação: O seu filho, por motivos de saúde, tem que levar uma injecção todas as semanas durante um mês. Apesar de saber que o pequeno tem pavor de agulhas, também sabe que a maior parte das vezes as injecções só doem um segundo. Hoje, depois de saírem do consultório, o seu filho queixa-se amargamente. Sabendo que a cena se repetirá durante as próximas semanas, você quer acabar rapidamente com aquilo e tenta minimizar a situação dizendo coisas do género:
Não chores. Também não dói assim tanto.” ;
“Estás a fazer disto um bicho de sete cabeças” ;
“O teu irmão nunca se queixa quando leva injecções.”
“Estás a portar-te como um bebé.”



A intenção que está por trás destas observações é boa, é certo, contudo, ela só piora a situação pois, além da criança não se sentir melhor com as palavras da mãe ela fica irritada por esta não reconhecer a sua dor. Quando compreendemos o que a criança sente, ajudamo-la imenso. Fazemo-la lidar com a sua realidade interior. E quando ela percebe essa realidade, arranja força para a suportar.


As suas palavras devem demonstrar que está mesmo a ouvir e que aceita o que a criança sente.
Por exemplo:
”Isso deve ter doído” ;
“Hum, foi mesmo mau.” ;
“É daquelas dores que só desejas ao teu pior inimigo” ;
“Não é fácil levar estas injecções todas as semanas.
Aposto que vais ficar todo contente quando acabarem.


As crianças não precisam que concordem com o que elas sentem; precisam que compreendam o que elas sentem.
Um dos muitos desafios inerentes à paternidade é a luta (quase) diária para que as crianças compreendam que nem sempre podem ter tudo o que desejam, no momento em que desejam. Fazer-lhes entender e aceitar a realidade é muitas vezes fonte de conflito, conflito esse causador de troca de palavras menos agradáveis e geradoras de mau estar na relação. Ora, se por vezes não se consegue evitar discussões desgastantes para os Pais, mas também para os filhos, outras ocasiões ocorrem que, com imaginação e boa vontade, as mesmas podem ser contornadas. Assim, segue mais uma estratégia comunicacional que os Pais podem usar na sua relação com as crianças:


4.º Satisfaça o desejo da criança em fantasia
Quando as crianças querem algo que não lhes podemos dar, geralmente reagimos com explicações lógicas sobre o motivo pelo qual não lhes podemos dar o que elas pedem. E estamos a falar de coisas tão díspares como o brinquedo que os amiguinhos já têm, ir brincar no parque à noite ou os seus cereais preferidos. Mas, o que acontece muito frequentemente é que quanto mais explicamos mais elas argumentam e protestam, fazendo os Pais perder a paciência e irritarem-se.


O que lhe sugerimos é que, quando assim for possível, satisfaça o desejo da criança em fantasia. Por exemplo: o seu filho, que adora astronomia, pede-lhe incessantemente um telescópio novo, pois considera que o que tem já está ultrapassado. Em vez de iniciarem uma discussão sobre o seu (caro) pedido demonstre-lhe que ouviu o seu desejo dizendo: “Estou a ver que gostavas muito de ter um telescópio de 200 polegadas.” E continue: “Sabes do que eu gostava? Gostava de ter dinheiro para te comprar. Não, gostava de ter dinheiro para te comprar um telescópio de 400 polegadas. Mais, de 600 polegadas. E veríamos as estrelas e os planetas todas as noites. Seria mesmo divertido.”


Por vezes, só o facto de a outra pessoa entender que queremos muito uma coisa torna mais fácil encarar a realidade.
5º. Dê ordens sem ofender ou humilhar a criança.

Não raras vezes, motivados pelo cansaço e saturação, ao chamarmos a atenção da criança para um determinado comportamento desadequado ou incumprimento de regra, juntamos palavras pejorativas ou críticas negativas à ordem, transformando-a num ataque à auto estima da criança.


Exemplificando: Apesar de estar estabelecido nas regras da família que os trabalhos de casa são para serem feitos antes do tempo de brincadeira e convívio familiar, o seu filho protela sistematicamente esta tarefa. Os pais, desgastados por terem que estar sempre a relembrar a criança que tem que fazer os deveres, acabam por proferir algo do género:” Vai já fazer os trabalhos de casa. Todos os dias é a mesma coisa. És mesmo irresponsável!”
A criança, ouvindo estas palavras, vai sentir que está a ser atacada, concentrando-se mais na crítica dos pais do que na tarefa que lhe dizem que tem que realizar. Aceitar ordens ditadas por quem nos está a pôr defeitos não é fácil e origina uma maior resistência à colaboração.


Segue-se um exemplo de 5 formas diferentes de chamar a atenção da criança para o que se está a passar sem a ofender ou humilhar, fomentando-se assim um clima de respeito em que o espírito de cooperação pode começar a aumentar.
  • Descreva o que vê“Não estás a fazer os TPC!”
  • Informe: “Amanhã vais ter falta na escola porque não fizeste os TPC”
  • Comente com uma única palavra: “TPC”
  • Descreva o que sentiu: ” Não gosto de estar sempre a lembrar-te que tens de fazer os TPC”
  • Escreva um recado: Deixe um recado colado na TV: “Antes de me ligares pensa se já concluíste os TPC hoje!”
 Por Manuela Silveira, publicado originalmente em Peças de Família.
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Fontes: imagem@dss e uptokids.pt
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